quarta-feira, 4 de julho de 2007

Helena Roseta e o PS

Quando tudo apontaria para que o PS revelasse uma natural dificuldade em lidar com a candidatura de Helena Roseta, eis que a realidade demonstra que é Helena Roseta que tem uma enorme dificuldade em posicionar-se face ao PS. No recente debate entre candidatos na Associação Comercial de Lisboa, António Costa encarou com toda a naturalidade a possibilidade de um entendimento pós-eleitoral com Helena Roseta, no quadro da disponibilidade que vem anunciando, a bem da governabilidade de Lisboa, com outras candidaturas. O que faz sentido: afinal, Helena Roseta, que entregou o cartão de militante há escassos dois meses, na sequência de a sua intenção em candidatar-se pelo PS não ter tido, alegadamente, acolhimento na direcção do Partido, foi dirigente e deputada do PS durante quase duas décadas, partilhando ideias, projectos, programas e lutas políticas com António Costa. Se Costa não se sentisse à vontade num entendimento pós-eleitoral com Helena Roseta, com quem, afinal, é que poderia estar à vontade para isso? Não se compreendem por isso as palavras amargas de Helena Roseta e o incómodo com a disponibilidade hipotizada por António Costa. Vamos lá, o PS não é elegível para entendimentos, mas as candidaturas da direita são? Onde é que está o voluntarismo cívico pelos consensos para a "salvação da cidade" quando toca a ponderar um entendimento com o Partido que está mais bem colocado para ganhar as eleições e relativamente ao qual faz sentido pensar a questão do entendimento para a governabilidade? E, já agora, que conversa é esta de que, quando a cidade está em crise profunda, "não interessam os partidos, são os cidadãos que têm de avançar"? Respeito muito Helena Roseta e até a sua vontade de avançar como independente. Mas é preciso ter memória e não confundir: Helena Roseta é candidata independente e desfiliou-se no PS porque, segundo a própria, não conseguiu ser candidata pelo seu partido; Helena Roseta fez toda a sua intervenção "cívica" e política, durante mais de 30 anos, nos partidos (PSD e PS) e através dos partidos (PSD e PS). Lembrar-se, de repente, que os Partidos são instituições quase imprestáveis já é um bocadinho demais.
Mark Kirkby