quarta-feira, 4 de julho de 2007

Sobre os arquivos da CML.

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Em comentário a este post disseste:
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Vi, mais tarde, que tinhas desenvolvido a ideia no Peão.
Como sabes o tema que trazes a debate é-me muito querido. Não só por trabalhar em História, por ser investigador ou por ter investigado (e trabalhado) sobre a História de Lisboa (onde consultei, muitas vezes, o Artigo do Alto da Eira). É por considerar que uma cidade que não trata do seu passado não tem presente nem pode ambicionar ao futuro.Não me apresento, como imaginas, em representação da candidatura do António Costa, mas posso-te dizer que essas preocupações são bem visíveis no discurso que o candidato do PS projecta para a cidade. Não será, como imaginas, tarefa prioritária para o «período da Urgência», na célebre cronologia Costa (período dedicado à arrumação da casa), mas não tenho dúvidas que as questões da memória da cidade serão peças fixas na construção do futuro.
No muito que tenho ouvido, no decurso desta pré-campanha, a ideia de tornar Lisboa uma cidade agradável á investigação científica é algo muito atraente e que tem feito o seu caminho no discurso político de alguns candidatos, em especial de António Costa. Agora, vamos ter de nos batermos (eu vou) pela não restrinção a ciência apenas às ciências exactas. Temos de fazer prevalecer a mais valia das ciências sociais, em especial as ciências históricas e documentais (importantíssimas na manutenção e na projecção – cultural, mas também política e económica – de Lisboa como cidade global). Temos de saber vender a História (velha discussão).
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Levantas algumas boas questões, vou tentar responder a algumas (em nome próprio).
1. Não me parece prioritário a construção de um edifício central no Vale de Santo António. Parece-me mais eficaz ver, no edificado camarário existente, a possibilidade de poder apresentar uma solução mais válida que um novo edifício.
2. Levantas a questão da brevidade de resolução do problema, e deixa-me dizer-te que prefiro que se pense primeiro no que se vai fazer, do que comprar soluções de pacote, prometer obras e transferências milagrosas. Não se pode repetir o exemplo da Hemeroteca. Tem que se elaborar um plano, articulando todas as entidades interessadas na boa solução: CML, investigadores, Universidades e Centros de Investigação, os utilizadores comuns e o próprio Estado.
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Agora, deixa-me retribuir com algumas questões. Onde está a interligação entre a Universidade e a História local? Tirando alguns trabalhos da Maria Antónia Pires de Almeida, do Luís Vidigal, do Paulo Jorge Fernandes, do Pedro Tavares de Almeida (antigos) e alguns meus (ainda inéditos – tenho de tirar um tempito para os publicar) há pouca produção universitária sobre Lisboa. O que falta para haver uma melhor interligação entre a Universidade e a Autarquia? Porque não apresentar, com parcerias entre Universidades, Centros de Investigação e a Câmara, projectos de investigação à FCT? E porque não procurar financeamentos alternativos? Porque não estabelecer protocolos entre a CML e as Universidades, como aquele entre a AUL e o GEO no tempo do João Soares (que produziu uma bela pós graduação sobre «História de Lisboa»)?
Há inclusive um Gabinete de Estudos Olissiponenses. O que faz? Não devia ele coordenar tudo o que respeitasse a estas necessidades? Que estudo fazem lá para o palácio do Beau Sejour?
Pergunta-se sempre o que é que a CML pode fazer pelos investigadores, e o que é que os investigadores podem fazer pela CML?
JRS