sábado, 2 de junho de 2007

Um candidato fraco precisa de estar (mal) acompanhado

Ao ver o cartaz de Telmo Correia tive dificuldade em identificar qual dos cinco é o candidato. Telmo é um candidato cinzento, que precisaria de uma campanha bem preparada para se afirmar. A ideia de o colocar acompanhado no cartaz é uma prova de fraqueza. Telmo não vale por si só. Vale se for acompanhado por mais quatro candidatos. Quando os acompanhantes são Nobre Guedes, Teresa Caeiro, António Carlos Monteiro e uma senhora que ninguém conhece, estamos conversados. O CDS está a fazer tudo para, pela primeira vez desde o 25 de Abril, não estar representado na Câmara de Lisboa.

João Miranda

O Zé faz falta?

O Zé, petit nom pelo qual José Sá Fernandes se apresenta a eleições, contribuiu indiscutivelmente para a queda da Câmara. O Zé, muitas vezes sozinho, denunciou as malfeitorias políticas do PSD e fez ouvir a sua voz quando o PS se manteve ensurdecedoramente silencioso. Sejamos francos: ele foi o líder da oposição camarária nos últimos dois anos. Esse mérito ninguém lhe pode retirar.Mas será que Zé vai fazer falta nos próximos dois anos? Sinceramente, creio que não, porque o contexto é diferente. Os tempos que se avizinham para a esquerda são de governo e não de oposição. Ora, o Zé é perito em desconstruir as propostas dos outros, mas não o imagino a assumir a responsabilidade de executar um programa. O Zé só sabe ser oposição. Isto não quer dizer que em democracia se possa dispensar a oposição: bem pelo contrário! Mas, o Zé, se for eleito, não poderá integrar a maioria de governo, sob pena de obstruir sistematicamente o desenvolvimento de um projecto de esquerda para a cidade. Deste modo, o Zé é o melhor candidato para os eleitores de direita que quiserem escolher um líder de oposição, mas um voto nele dos eleitores de esquerda é um voto desperdiçado.

João Miranda

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Ideia, projecto, candidato. Unir Lisboa. (1/2)

Tenho para mim, já há algum tempo, ser essencial que o PS em Lisboa apresente um bom candidato, uma boa equipa e um bom projecto.

A António Costa é vital que consiga a equipa que quer, onde todos saibam defender o projecto a apresentar a Lisboa, e onde a determinante de pertença não seja exclusivamente política e partidária. Já o tenho dito , e repito, que o PS necessita de valências que, temo, não encontra com facilidade no seu seio. Há que ir à «sociedade civil» ou desenvolver um projecto suficientemente agregador para potenciar a relação PS - Sociedade Civil, no meu entender essencial para o futuro da cidade. Há já algum tempo que tenho reflectido sobre que projecto, que Ideia deve sustentar o desenvolvimento de Lisboa para a próxima década e penso que esse não pode, hoje, ser suportado exclusivamente por uma força partidária.

É aceite que os partidos políticos estão em off, não atraem massa crítica, não conseguem se libertar do estigma da má politica, do amiguismo, dos jobs for the boys. Por mais bons exemplos que existam, a verdade é que as condicionantes das suas vidas internas são demasiado visíveis nos organismos estatais, autárquicos ou afins. É assim quando o PSD e o PP estão no poder, é assim, infelizmente, e em alguns casos, com o PS.

É visto com naturalidade a colonização de Ministério X ou de Departamento camarário Y com elementos do sindicato de voto interno. É disto que Pacheco Pereira tem vindo a alertar e esta é uma realidade demasiado dispersa. Isto afasta o cidadão comum da política dos partidos, reduz o leque de recrutamento destes e atrai o político oportunista de segunda, que facilmente sobe na estrutura partidária se souber colocar bem as suas peças no xadrez da secção/concelhia/federação.

Lisboa não necessita deste tipo de gente. Basta ver o lastro que os assessores do PSD deixaram na Câmara. Isto não quer dizer que os partidos políticos estejam, para mim, falidos, ou que necessitemos de alguma refundação democrática à italiana e tal; não. Quer dizer apenas que na vida política a definição da acção tem de passar do próprio para o outro.

Cabe aos partidos saberem se apresentar com outros argumentos, com outras lógicas e com outras figuras.

Neste sentido, ao escolhermos António Costa, apresentamos um exemplo do melhor que há ao nível do serviço público altruísta de qualidade, responsabilidade e de projecto.

Ao escolher António Costa, o PS procura desmentir a inevitabilidade da má escolha e demonstra que um partido que quer ser progressista e ter a responsabilidade de gerir o bem comum - como a CML - , pode gerar, de dentro dos seus militantes, candidatos e equipas de qualidade superior.
(continua)

José Reis Santos

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Em que ficamos?

Por um lado, Negrão considera que Lisboa «não teve liderança», «não teve rumo», que Carmona «representa a equipa que nos últimos dois anos governou a cidade» e que «todos os lisboetas assistiram à desgraça que foi a gestão camarária». Por outro, e de acordo com o Diário de Notícias e o Público de 29 de Maio, parece que Lipari Pinto e António Proa farão parte da lista de Negrão.

Não se percebe. Se Marina Ferreira e Amaral Lopes são bons para a comissão administrativa, por que não são bons para a lista? Se os bons são Lipari e Proa, então por que não estão na comissão administrativa? Em que ficamos?

Tudo isto é triste, mas tudo isto é claro. Negrão procurou, primeiro, dividir a santíssima trindade, separando Carmona de Mendes e Teixeira da Cruz; depois, isolar Carmona da respectiva equipa, para, enfim, e sem se rir, vir responsabilizar em exclusivo Carmona enquanto «a face do problema». Percebe-se agora um pouco melhor porquê e com que alcance: porque Negrão pretendia, afinal, recuperar para a sua própria lista certos elementos da equipa que, na sua opinião, desgraçou a gestão de Lisboa.

Para além deste intolerável número de ilusionismo, como interpretar a manutenção de Sérgio Lipari Pinto e de António Proa na lista de Negrão? Leiamos o Paulo Gorjão no Bloguitica: «Como se esperava, a inclusão de Sérgio Lipari Pinto e António Prôa na lista de Fernando Negrão revela que Marques Mendes optou por jogar pelo seguro. O líder do PSD preferiu abdicar de lutar por uma vitória em Lisboa -- pouco provável, refira-se -- em troca da manutenção de apoios que se poderão vir a revelar muito importantes para a sua sobrevivência em 2008.»

Nada disto tem a ver com Lisboa, excepto na medida em que toma a cidade como pretexto. Tal como quando escolheu Carmona e afastou Valentim e Isaltino, e depois afastou Fontão, Gabriela Seara e Carmona, o dr. Marques Mendes está a pensar na sua própria liderança e a acautelar apoios partidários futuros no previsivelmente difícil contexto pós-eleitoral. Este posicionamento tem a vantagem de simplificar a leitura da noite eleitoral no caso de Negrão ter uma derrota expressiva, atrás de Carmona, por exemplo: o de já sabermos qual é a cara, e o nome da derrota.

Rui Branco

António Costa e a Lei das Finanças Locais

O facto de António Costa ser o rosto político da nova Lei das Finanças Locais poderá constituir um dos principais temas de campanha. Ruben de Carvalho já esboçou essa linha de ataque no lançamento da sua candidatura e creio que os restantes candidatos procurarão não lhe ficar atrás. Todavia, caso as outras candidaturas venham a enveredar por esse caminho, podem cair num enorme engodo. Por um lado, a generalidade dos eleitores concorda que era necessário pôr cobro ao despesismo de muitas autarquias locais. Por outro lado, os eleitores de Lisboa são os mais sensíveis à bondade das opções contidas na referida Lei, pois estão fartos de serem vítimas do fartar vilanagem dos últimos seis anos: são eles que viram os impostos e as taxas locais serem aumentados para financiar projectos megalómanos e pessoal político em barda.
De resto, a ideia de rigor que a candidatura de António Costa procura transmitir é também indissociável da nova Lei das Finanças Locais. Os eleitores de Lisboa não querem ouvir falar de túneis, do Parque Mayer e de outros empreendimentos. Querem, antes de mais, saber como e quando se vai pagar a dívida que ronda os 1250 milhões de euros. Para isso, vai ser necessário aplicar a nova Lei das Finanças Locais, assumindo-se, desde já, que nos próximos dois anos apenas vai haver condições para arrumar a casa.

João Miranda

Números de ilusionismo


Segundo Fernando Negrão, ao Expresso deste fim-de-semana, a Câmara de Lisboa teve, nestes dois anos com Carmona Rodrigues, teve, disse o candidato do PSD, «falta de liderança». É isso, exacto. Lisboa, diz Negrão, «não teve rumo». Certo, de acordo. «Carmona representa a equipa que nos últimos dois anos governou a cidade. Todos os lisboetas assistiram à desgraça que foi a gestão camarária.» Certo, tudo certo. E que «Carmona será a face desses dois anos». Calma, pára tudo.

Agora me lembro. Quem escolheu Carmona foi Marques Mendes. Mais: quem impôs Carmona enquanto escolha pessoal contra Santana foi Marques Mendes. Mais ainda: a escolha de Carmona e as opções em relação a Isaltino e Valentim serviram a Mendes para «credibilizar» a sua liderança. Ou seja, a confiança de Mendes em Carmona foi retribuída com a caução política que um inesperadamente vitorioso Carmona emprestou a Mendes, numa fase inicial e incipiente da sua liderança. Isto mesmo, aliás, Paula Teixeira da Cruz, pressurosa, se apressou fazer notar, e a fazer render. É ler os jornais de 10 de Outubro de 2005. Carmona, Mendes, Teixeira da Cruz, Negrão – há aqui um padrão, e chama-se PSD.

Houdini morreu a tentar fugir de um tanque com água. Mas nem todo o poder dialéctico do mundo conseguiria o número de circo intolerável de dissociar a desgraça de Lisboa das escolhas do PSD de Mendes. Carmona foi tão escolhido por Marques Mendes como Fernando Negrão foi escolhido por Marques Mendes. Ou estará Negrão a sugerir o contrário? Talvez daqui a dois anos um qualquer outro candidato do PSD venha dizer que, no verão de 2007, Marques Mendes, e o PSD, épá e tal, não tiveram nada a ver com isso e que a face da derrota do PSD no verão de 2007 foi, deixa cá ver, a de Fernando Negrão – apenas e só. Talvez seja o próprio Marques Mendes a vir dizê-lo dia 15 de Julho, à noite.

Fernando Negrão não vê nas costas de Carmona as suas próprias costas. Negrão começa mal: a negar a realidade, mas isso é lá com ele, e a tomar os lisboetas por parvos. Faz mal. Pensa mal. Vê mal. Quantas faces se vêem na fotografia acima?

Rui Branco